VIDA – Caminhar que desenvolve Pessoa.

A jornada de Alessandro Lima revela a evolução espiritual, o confronto com sombras internas e a busca incessante pela conexão entre mente e coração no caminho para se tornar Pessoa.

CONVERSA HUMANIZADA

Alessandro Lima

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um homem sentado em uma saliência com um pôr do sol ao fundo
um homem sentado em uma saliência com um pôr do sol ao fundo

Em 2016 surge, aparentemente sem motivo, uma necessidade interior em mudar o caminhar da vida, mas sinto que tinha dia e hora marcada para acontecer. Primeiro uma vontade de descobrir a espiritualidade e minha conexão com o que é transcendente. Naturalmente fui levado ao encontro do local onde foram acolhidas as curiosidades despertadas pela razão, ao mesmo tempo respeitados os sentimentos impulsionados pelo coração. Inicia o encantamento com a descoberta da universalidade humana e com o desvelar de respostas concretas e objetivas para questões como:

De onde vim?

Para onde vou?

E qual a razão de existir?

Nesse instante passo a viver o desencadear de um processo intenso de emoções, sentimentos, pensamentos e ações. Sinto um equilíbrio harmônico que me estimula prazer e felicidade. Percebo o atendimento de necessidades físicas e emocionais.

Um pouco antes de iniciar essas vivências, experienciava uma ilusão, onde a busca da felicidade era atendida por sensações momentâneas que cumpriam o papel de camuflar dores e angústias em atendimento aos desejos. O que desenvolvia desgaste físico e emocional. Para quem dizia não ter vícios, na verdade seguia envolvido pelo vício em ilusão, alimentado por projeções.

Esse período de plenitude fazia com que a vida me encaminhasse para a prática de atividade física. Foi onde conheci o ciclo turismo e a conexão com as belezas da natureza. Despertei para o benefício da alimentação saudável, ao ponto de passar o dia com a ingestão de duas ou três amêndoas sem sentir fome, permanecendo disposto e ativo física e mentalmente. Exames médicos e laboratoriais apontavam saúde integral que era comprovada pelas taxas de vitaminas, minerais, hormônios, etc...

O encontro com a espiritualidade possibilitou a superação do questionar a existência ou não de Deus, passando de ateu para agnóstico e finalmente encontrando na religiosidade praticada dentro da proposta do cristianismo primitivo minha conexão com o Divino, proporcionada pela doutrina dos espíritos e sua base religiosa, filosófica e cientifica.

Conheci o prazer transcendente de desenvolver um trabalho voluntário, dentro de uma instituição que existe a 60 anos e oferece a sociedade serviços de apoio emocional, trabalhando com a visão de um dia deixar de existir, já que atua de forma compassiva na construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária. Assim sendo, quando essa visão for realidade, deixa de existir a necessidade de uma entidade que presta serviço de apoio emocional, poistodas as pessoas estarão aptas a oferecer amizade de forma tão natural quando o ato de respirar.

No CVV consigo praticar o aprendizado da religiosidade em uma instituição sem vinculação política e religiosa, mas que abraça todas as religiões e ideologias, oferecendo ambiente favorável para que cada pessoa possa praticar Humanidade. Ao dizer sim para a proposta de vida do CVV meu encantamento chegou ao ápice. Encontrei uma instituição cujos valores e práticas estão conectados com minha alma.

Interessante que foram justamente as ferramentas de autoconhecimento e aprimoramento contínuo que tive acesso no CVV que me proporcionaram um novo despertar, gerando o desencantamento com as próprias sombras que definem características de minha personalidade, aquelas que contribuíram para o enraizamento de inúmeras máscaras, algumas de proteção outras por mera identificação. Uma ida ao porão da alma com encontros tristes, constatações dolorosas, percepções angustiantes, identificações que produzem um desequilíbrio recorrente e de difícil reestabelecimento. Toda a luz recém encontrada é intensamente ofuscada e tudo parece voltar ao ponto de partida.

Descubro que o vício foi se infiltrando nesse período luminoso, a ponto de me levar a uma recorrente rigidez na prática alimentar, nos exercícios físicos, no envolvimento com a religião e na dedicação ao trabalho voluntário. Em 2019, inicia um fluxo de desequilíbrio profissional, familiar, social e emocional culminando em 2020. Para minha “surpresa” sou presenteado com a possibilidade de viver um turbilhão de emoções e sentimentos com oscilações intensas das relações intra e interpessoais dentro de uma pandemia.

Acredito que a vida oferta a prova e a solução ao mesmo tempo. Abraçado aos recursos que já tinha encontrado na religião, nas ferramentas do CVV e no apoio de uma terapia, escolho investir nesse auto encontro, onde sigo cavando fundo a alma e sendo apresentado de forma consciente a inúmeras vicissitudes e virtudes que alimentam a luz e a sombra do meu ser.

Sobrevivendo a um desencantamento geral, em junho de 2021 conquisto meio século de existência no atual espaço tempo. Nos meses seguintes desse novo ciclo, sigo entre lutas de mim para comigo onde algumas vezes vivo vitória e em outras derrota... Interessante que nos dois lados dos muitos conflitos existenciais está presente apenas uma alma... meu espírito clama por realinhamento, mas a vontade parece ter me abandonado ainda que empenhe um árduo esforço para seguir o trajeto da trilha do autoconhecimento. Vivo a bordo de um carrinho de montanha russa, onde emergem alegrias e tristezas no reconhecimento de quem realmente sou

Com um pouquinho mais de maturidade em relação a mim mesmo, aos meus comportamentos e principais gatilhos emocionais, escolho manter o esforço em prol do equilíbrio entre conquistas e derrotas na saúde integral, envolvendo alimentação, prática esportiva, espiritualidade, trabalho, finanças e relacionamentos. Agora com melhor condição para perceber os escorregões algumas vezes no início, outras no decorrer e muitas vezes depois de passar a onda que me leva a reatividade. Nesse quesito, ter conhecido e estudado o processo da comunicação não violenta, desenvolvido pelo psicólogo Marshall Rosemberg, tem sido um recurso interessante para conseguir olhar para mim com afeto, carinho e amor e consequentemente desenvolver um aprendizado que me ajuda a recorrer aos mesmos sentimentos na relação com o outro.

Esse conhecimento vai além da teoria e me possibilita desenvolver a segurança de que raiva, alegria, tristeza, medo, desprezo, surpresa, animação, gratidão ou qualquer mistura de emoção e sentimento é importante para mim no momento que surge, pois constituem minha essência humana. Logo, sentir de forma autêntica, buscando perceber minhas necessidades contribui para o distanciamento da punição e dos julgamentos cartesianos. Uma prática de vida que têm me conduzido a conexões internas, abrindo oportunidades de harmonia no sentir, pensar e agir. Além de conexões externas quando me permito desenvolver um olhar mais amigável e caridoso com o outro, buscando entender as necessidades relacionadas com seus sentimentos.

E assim sigo no ritmo relacionado ao registro dos batimentos cardíacos e como um geminiano nato experimento dentro das limitadas 24 horas do dia, as alegrias existentes na simplicidade da vida, as angústias desenvolvidas pela tendência a complicar e a paz no encontro do equilíbrio. Observando que mesmo com dificuldade em manter a serenidade diante dos muitos estímulos que a vida proporciona, consigo entender e sentir que tudo é válido quando me proponho a construir uma vida plena executando o básico, que é viver o momento presente com autenticidade.

O bom dessa escalada no caminhar da maturidade é a descoberta de que a cada instante da vida surge mais uma oportunidade para um reencontro ou religação com minha essência, dentre muitas que já tive e uma série de outras que ainda terei. O que me leva a perceber que no atual espaço tempo necessito trabalhar a vontade para que possa aumentar o rol de escolhas orientadas pela essência humana que habita em mim.

Colocando em um texto tudo parece tão óbvio e até mesmo fácil, é onde a razão grita: “- LEDO ENGANO...”, e de forma automática o coração responde compassivamente: “- Tudo segue da melhor forma...”

Chega 2021 proporcionando intensidades e apatias em todos as dimensões relacionadas com o viver...

Uma quantidade tão grande de eventos e de forma tão intensa que olhando para traz sinto que fui matriculado compulsoriamente em um curso integral e intensivo de Vida...

O dia era um belo domingo de sol do mês de setembro, passeando lentamente de bicicleta com meu filho caçula tudo muda de tom... Após um leve trombar entre nossas bicicletas, pouquíssimos segundos titubeando, sou levado ao chão causando uma grave lesão no joelho. Dentro da ambulância, uma busca por entendimento e o esforço por controlar a situação e me manter equilibrado... Na sala de emergência do hospital a internet ajuda a compreender o significado de lesão no joelho... Ops... nenhuma surpresa, questões no joelho estão relacionadas a orgulho e arrogância... Tudo sob controle, vamos mascarar essas vicissitudes... Com urgência sou encaminhado a sala de cirurgia...

De um domingo de sol diretamente para 21 dias de sombra confinado dentro de um quarto de hospital, dependência quase que total do outro, algo intenso para quem se vê autossuficiente... A mente segue alimentando medo, angústia e tristeza até desenvolver o pânico ao pensar que saindo dali estaria dentro de uma realidade de grande dependência e fora das projeções de planejamento e controle...

Sobrevivo embarcando naquela conhecida montanha russa... E lá vamos nós outra vez...

Em 2022, próximo ao fim de mais um ciclo, sem que a mente perceba ou mesmo concretize, o coração senti evolução espiritual nas mudançassutis... E a mente insiste alimentando a dúvida: “- Será?” e o coração se ressenti “- Até quando...”

Compreendo que na relação parental (companheira e filhos), de forma mais intensa, assim como em todas as demais relações sou convidado a enxergar espelhos que refletem minhas imagens. Aceito que optei pela violência em inúmeros contextos nessa jornada e ainda posso tropeçar nessa prática. Respeito esse longo caminhar de reeducação para que possa viver e inspirar a paz. Confio que enquanto esse processo se desenvolve tenho condições de assumir a responsabilidade de compartilhar vivências, ofertando apoio aos que possam se conectar em algum aspecto comum.

Por aqui resolvo concluir o texto sabendo que a Vida ainda tem um longo caminhar e possivelmente sua esperada conclusão seja mais uma ilusão da mente ou mesmo esteja fora do alcance dela, observando que processos transcorrem em ciclos que tendem ao infinito com inexistência de finitude ou conclusão... E o coração nesse processo percebe que mais do que chegar a uma conclusão, a VIDA servi ao desenvolver PESSOA... Nesse caminhar sou levado a compreensão que tornar se Pessoa é uma ação que estimula coração e mente a andar juntinhos, misturados e integrados de forma plena e natural.

Alessandro Lima

Facilito exercícios e vivências

de Comunicação Não Violenta (CNV)